"[...] O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinqueta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim, de repente, na horinha em que se quer, de propósito - por coragem. Será? Era o que eu as vezes achava. Ao clarear do dia." - Por Riobaldo Tatarana, jagunço do sertão.
Passagem de ano para 2011 |
Em nenhum momento pós diagnostico me revoltei com qualquer visão de "grande justiça divina" que eu pudesse ter. Simples assim, pois eu nunca vi a vida justa. Coisas boas e ruins acontecem com qualquer um, independente da conduta que temos ao longo da vida. A lei da ação e da reação existe sim, mas só aonde enxergamos, mas e o resto? O "resto" é muito mais do que a parte que podemos ver, por isso, a revolta é tão inútil quanto a culpa. Assim eu fui percebendo... e assim eu fui superando toda a raiva que sentia por ter uma parte da minha tranquilidade e planos roubada, sem mais nem menos, sem merecimento, pelo meu próprio corpo.
Fui entendendo que ser agradecido é necessário, não por aquela ideia cristã a qual somos submetidos a vida toda, do "agradecimento por si próprio", pelo simples fato de ser mais fácil lidar com alguém agradecido acima de tudo à lidar com alguém que questiona o próprio destino. Mas ser agradecido para aliviar aquele peso de toda a culpa e injustiça que vivemos todos os dias, que vemos por todos os lados, que sentimos no estômago e nas perdas. Agradecer é reconhecer o lado bom da vida, que as vezes por mil motivos, fica tão difícil de enxergar que desistimos do que antes nos movia e nos tornamos amargos, cegos e mesquinhos.
Eu passei por todo esse processo em muito pouco tempo, entre esquecer como era se sentir bem e esquecer o medo de um novo começo. Fui entendendo que se eu fosse agradecida a tudo que me foi jogado na cara, no meio da podridão de um tratamento invasivo e limitador, eu poderia rebaixar o inevitável ao simples fato de ser inevitável e erguer como um troféu tudo que eu poderia evitar. O sofrimento é uma ilusão: o inevitável não se remedia e ao belo só nos resta abraçar.
Então eu me vejo, no final, em uma situação contrária ao inicio. Quando antes eu não queria me afastar a força de tudo que conquistei e aprendi a amar, agora tenho medo de me afastar de tudo que me tem mantido em pé quando eu mais precisei. Antes a força, agora por escolha. Escolher é muito mais difícil do que ser submetido, muito mais assustador.
Enfim, que 2014 seja sem medo, pois garantias de vitória ninguém tem e por isso não deve nunca ser o objetivo. Aprenda com suas quedas e não espere o melhor de suas escolhas, espere apenas aprender com elas a faze-las melhores no futuro.
Conselhos de quem tentou ser otimista e pessimista nas piores das situações e aprendeu que o melhor resultado sai de quem enxerga a realidade somente e apenas para aplicar a esperança.
Feliz 2014!
E boa sorte para nós.