quinta-feira, 18 de julho de 2013

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Fiz a primeira quimioterapia na sexta-feira passada. A cada duas quimioterapias, se completa um ciclo e teoricamente eu devo fazer 8 ciclos, que dá mais ou menos 8 meses, já que um ciclo tem 28 dias. E para este tipo de neoplasia, são quatro remédios, representados por ABVD. Efeitos colaterais clássicos dessas bombas que parecem que fazem mais mal do que bem pro nosso organismo... enjoo, vomito, queda de cabelo, esterilidade, insuficiência cardíaca e pulmonar, mucosite, manchas na pele, dor e febre. Básico, né gente? Maaas.. considerando que nenhuma bula de remédio foge muito dessas longas listas de probleminhas, sugiro que seja ignorada.
Não tive nenhum grande efeito colateral... um enjoo que vai e vem de leve, nada que precise de remédio, muita sede e um sono gostoso. Sabe quando a gente sente que vai ficar doente, que o corpo pede cama, ai a gente dorme o dia inteiro e acorda novo? Então... é assim quase todo dia.
"E o cabelo?" - me perguntam... bom, o médico me disse que se eu fosse homem, ele diria que o cabelo nem cairia, mas sendo moça, talvez caia e talvez não caia. Cada organismo reage de um jeito... mas cair tudo não é comum, provável que fique mais rarefeito. Ainda nenhum sinal, é bem cedo pra dizer de qualquer forma. Se começar a cair muito, pretendo vender... pelo menos tiro algum lucro do problema.
Pra mim, a pior parte são as agulhas... malditas agulhas. Mas espero que continue sendo a pior parte até o final do tratamento.
A segunda pior parte é frequentar um hospital que só trata desse tipo de problema e sua cabeça não parar de se queixar. Não que tenha que ser fácil pra você, só porque existem problemas maiores. Até porque isso não existe, o tamanho do seu problema, você é quem mede. Mas porque eu sei que tem gente ali que daria os últimos dez anos de vida pra ter o meu diagnostico, ou que não tem condições de se tratar em um bom hospital, ou que não tem uma família e amigos tão maravilhosos quanto os meus pra dar apoio (fisico, emocional e financeiro)... essa é a segunda pior parte, porque te desgasta muito, muito mesmo. Eu não imagino como funciona a cabeça de um médico, tem que gostar muito mesmo do que faz pra conviver em um ambiente pesado desses, sem desabar.
Boa sorte para nós. =]

Como você ficou sabendo?

Minha primeira postagem tem que começar pelo começo, redundante assim. Isso porque é uma das primeiras perguntas que me fazem quando ficam sabendo do meu diagnóstico: Linfoma de Hodgkin Clássico, ou seja, é um tipo de câncer no sistema linfático. Foi confirmado depois de um punção em um gânglio que insistiu em crescer no meu pescoço, por mais ou menos um ano, no mês passado.
A primeira suspeita do médico foi a minha tireoide, já que o histórico da minha família conspirava a favor e eu não tenho nenhum dos sintomas clássicos de linfoma, como febre persistente, sudorese noturna, perda de peso e falta de ar. Então o médico pediu um ultrassom e uma punção (biópsia, onde eles coletam o material do linfonodo com uma agulha e depois analisam em laboratório). Depois que fiquei sabendo do resultado, fui a um oncologista e este me pediu mais duzentos mil exames... diga se de passagem, que foi a parte mais chata desse processo todo: Biopsia total do gânglio (em cirurgia, eles retiram um gânglio afetado pra uma biopsia mais detalhada); Tomografia com contraste (você passa em uma máquina estilo futurista, enquanto uma substância é inserida no seu corpo por meio de um cateter); PET scan ou cintilografia (quase a mesma coisa do exame anterior, mas a maquina e a substancia mudam: ressonância magnética com flúor radioativo, que destaca células em atividade de divisão descontrolada) do corpo inteiro; exames de sangue dos mais variados; biopsia da medula óssea, esse é o mais chato... como a punção, uma agulha recolhe material da sua medula, ou seja atravessando o osso, com anestesia local. A sensação depois desse exame é a de ter caído de costas em uma quina de granito. Hehe! Essa biopsia serve para saber se as células alteradas estão na sua medula também, uma vez que a medula é responsável pelo nascimento das nossas células do tecido sanguíneo (Sim, o sangue também é um tecido!).
Resultado de tudo isso: Linfoma de Hodgkin clássico, grau 3 (seria 4, o máximo, se minha medula estivesse comprometida) de baixo risco (pois sou saudável e nova).
Então, esse texto grande tem um motivo nobre: quando me disseram que eu estava com linfoma, minha primeira reação foi procurar na internet... não faça isso, senão você se enterra antes da hora. Aí eu encontrei alguns blogs de pessoas que contaram como foi passar pela mesma coisa que eu estou passando. E foi ótimo, respondeu várias duvidas e ajudou em várias questões, tipo ansiedade absurda de saber exatamente o que está acontecendo e querer prever o futuro. Por isso estou fazendo o mesmo, bem detalhado, pra ver se eu também ajudo alguém. =]
Resumindo: Linfoma de Hodgkin tem mais de 90% de cura (cura, quando se fala de câncer, significa nunca mais voltar a aparecer no organismo), costuma dar em jovens de 15 a 30 anos de idade, mais em homens e vem crescendo o numero de diagnósticos. Esse, especificamente... pois existem os Linfomas não-Hodgkin. E... considerando 100% os disgnósticos de neoplasia, este é raro, mais ou menos 1% dos casos. Ai minha tia me perguntou:
"E você ganha o que com isso?"
- A cura! =]